Em meio a comentários sobre futebol, choro de crianças angustiadas e reclamações rotineiras, Almir, destraido e indiferente, observa um misterioso vulto acinzentado correndo em meio aos pedestres. Um vulto assustadoramente familiar que o fez lembrar do ano anterior.
- Isso Leandro! - Grita Almir ao ver o garoto atravessar a linha de chegada.
- Você é muito rapido. Onde aprendeu a correr assim?
- Não sei professor.
- Leandro, vou conversar com um amigo meu que trabalha em um projeto de atletísmo com crianças para tentar te inscrever. Você tem um grande futuro no esporte e isso não pode ser jogado fora mas antes você tem que estudar.
- Tá bom professor.
Mas no inicio do ano letivo Almir não encontrou mais Leandro.
- Dona Neide você sabe do Leandro que era da 3ª série B no ano passado?
- Ele não foi matriculado esse ano.
- Como assim não foi matriculado?
- Pelo que eu ouvi de alguns alunos paresse que ele fugiu de casa por causa do pai que é alcoólatra e batia nele e na mãe.
Mas uma repentina correria interrompe bruscamente o pensamento de Almir que da sinal e tenta desesperadamente chegar a porta de saida do ônibus quando de repente um forte estampido o congela. O segurança da loja atirou no menino de rua que roubou a bolsa da madame sem mesmo se importar em alvejar uma criança.
Quando o ônibus passa em frente ao aglomerado Almir constata o que tanto temia ao ver o corpo caido de bruços, era o corpo de Leandro com uma mancha vermelha nas costas. Na próxima parada do ônibus Almir para em frente a porta aberta e observa os passageiros descerem mas não desce. Quando a porta se fecha Almir senta na escada da saida e deixa cair uma discreta lágrima que se mistura ao suor e a tristeza na rotina da megalópole.
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