O Porão Alternativo é um blog destinado a difundir por meio de filmes, músicas, reflexões, diálogos, dicas, literatura marginal, idéias, pensamentos e informações, tudo que for relacionado a cultura alternativa e underground. Nosso intuito não é cultuar o modísmo e a superficialidade das artes mas sim exibir conteúdo de qualidade atravéz de um acervo cultural criteriozamente selecionado para entreter, divertir e informar. Deis de já agradeçemos a sua vizita e seja...






quinta-feira, 6 de maio de 2010

O Negro na Mira, Mas Nunca Em Foco???


       O Brasil é o país com maior quantidade de afro-descendentes no mundo perdendo apenas em quantidade para todo o continente africano, mais da metade da população do país, cerca de 90 milhões de pessoas são afrodescendentes mas isso não é sinal de que o negro tem a mesma igualdade de direitos, representação e oportunidade que as demais raças.
      Para um país com essa proporção de afro-descendentes o Brasil possuí dados assustadoramente desiguais no quesito inclusão social e cultural  dessa imensa parcela da população: o índice de homicídio de jovens negros de 15 a 28 anos é 2 vezes e meia maior do que de jovens brancos da mesma faixa etária; 67% das pessoas pertencentes as classes C, D e E são afro-descendentes enquanto apenas 13% das classes A e B são negras ou pardas; mesmo sendo a maior parte da força de trabalho brasileira, a taxa de desemprego da população negra chega a ser 46% maior que a população branca; mesmo com as cotas universitárias e ações afirmativas, o índice de estudantes afrodescendentes em faculdades e universidades no Brasil é de 25%; os negros e pardos representam 80% da população carceraria brasileira; a diferença salarial entre negros e brancos para pessoas com o mesmo grau de instrução, idade e qualificação profissional pode chegar a 36% em alguns estados brasileiros, se agravando mais quando o trabalhador é do sexo feminino; a taxa de mortalidade de crianças negras e pardas de até 5 anos no Brasil é 65% maior do que crianças brancas na mesma faixa etária.
       O Brasil foi o último país das americas a abolir a escravidão, estimulado não por um desejo libertário e abolicionista e sim por um interesse de incersão na segunda revolução industrial que fermentava a economia européia à algumas décadas. Nessa época um senso lógico foi criado pelos que vizionaram a revolução índustrial: para que a produção índustrial em massa pudesse ser uma realidade era preciso ter um público consumidor ativo mas como esse modelo de desenvolvimento poderia ser implantado aqui no Brasil sendo que a grande maioria da população brasileira era composta de escravos que não tinham renda? Por isso os grupos abolicionistas incentivaram o fim da escravidão pois se os escravos fossem libertos, poderiam fazer parte da força de trabalho índustrial, ganhando salários que garantiriam apenas a sua subsistência e consequentimente consumiriam os produtos que produziam criando um ciclo de enriquecimento dos donos das fábricas. Mesmo com a abolição da escravatura e com a suposta introdução dos negros no mercado de trabalho, a segregação racial e social continuou pois nunca os governantes tiveram o interesse em insentivar a emancipação do povo que acabara de ser liberto empurrando a população negra, analfabeta e desqualificada profissionalmente, para os guetos e favelas nas periferias onde a única presença do estado vem atravéz da repressão pelas autoridades policiais. Grande parte dessa herança de desigualdade permanece até hoje, ou seja, a sociedade teve mais de 120 anos para remediar todo o mal que foi cometido durante a escravidão mas ao invés disso se utilizam de vários meios para que essas diferenças estejam sempre presentes gerando o que eu classifico como o preconceito sútil.
         A mídia como criadora de conceitos éticos e sociais modernos é uma das grandes responsaveis pelo permanente estado de desigualdade e estaguinação dos afro-descendentes brasileiros. Em países como os Estados Unidos, em que apenas 17% da população é afrodescendente, cerca de 46% dos universitarios são negros e a cultura negra tem muito destaque nos meios de comunicação. Vemos a musica negra inserida masivamente na cultura americana, artistas negros em papéis de destaque e recebendo o devido respeito pelo seu trabalho, estudiosos e cientistas de renome mundial, etc... Não que a população negra americana seja totalmente respeitada mas em comparação com o Brasil, os E.U.A estão muito mais avançados na questão de direitos civis e inclusão social.
         Já no Brasil criou-se a visão de que o negro não é estéticamente bonito, visão essa que é reforçada pela mídia e pela moda. Deis dos labios grossos, ao nariz largo e ao cabelo crespo que maldosamente é chamado de "cabelo ruim" ou "pixaim", tudo que é associado a traços caracteristicos dos negros é descartado pela mídia e pela moda como padrão de beleza contemporâneo. No país mais miscigenado do mundo o maior padrão de estética existente vem de Gisele Büdchen que é branca, magra, de olhos azuis e de desendência alemã, uma realidade extremamente diferente de 96% da população brasileira. Isso reflete diretamente na alto-estima dos jovens afro-descendentes que acabam achando que suas caracteristicas naturais são desprevilegiadas perante aos moldes europeus que nos são impostos e a maior prova disso é que nunca se vendeu tantos produtos e aparelhos para alisamento de cabelos.
       Os negros brasileiros não olham para a televisão e veem sua imagem sendo veinculada a grandes propaganda ou como membros atuantes da sociedade, pois a televisão é uma das grandes responsáveis por segregar a história e a imagem do negro que, quando veinculada, é estereotipada em personagens como empregadas, serviçais, malandros e músicos, todos ingênuos e desinformados sobre sua história e suas raízes. Também somos retratados na música quando ela não cria uma conciência e alto-afirmação (infelismente a verdadeira musica negra não é divulgada) , nos esportes ou em quadros cômica. Os telejornais distorcidamente retratam atravéz das noticias (na sua grande maioria negativa) a realidade dos afro-descendentes, que na sua ampla maioria, moram nos bairros menos abastados das cidades brasileiras.
       Na educação não temos a nossa história incluida na grade curricular fazendo com que os afro-descendentes não conheçam a verdade sobre sua genealogia e suas heranças culturais.
      Todos esses fatores mostram o abismo de desigualdade racial e social que os afro-descendentes sofrem no Brasil, e como os governantes arquitetaram durante séculos essas condições para que o negro se veja sempre como um mero subserviente sem direito de prosperar e sendo obrigado a aceitar as condições que nos são impostas ilusoriamente como méritos da libertação, quando tudo isso é um reflexo de um sistema construido para que a elite branca seja detentora de 90% de todas as riquezas da nação enquanto os negros e pobres recolhem as sobras.
          A única maneira de nos desvincularmos desse ciclo vicioso é a educação. Não devemos esperar a boa vontade dos nossos governantes, pois o que eles mais desejam é o nosso total estado de alienação porque um povo sábio, que questiona, que luta pelos seus direitos e que vota conciênte é uma forte ameaça aos interesses daqueles que controlam a nação. Não serei ilusório ao ponto de acreditar que a jornada do conhecimento será proporcionalmente igual para negros e brancos, mas uma coisa é verdade,  quanto maior for as nossas dificuldades maior será o nosso apredizado depois de superá-las.



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